O romance Os Ratos de Dyonelio Machado consome-se – sem, de fato, se consumir –, dentro de uma estrutura cronológica que é, como a emoção que nela revive, “enorme”, aparentemente não medível e no fundo incomensurável. Tempo, com efeito, que se molda e se ajusta num espaço ambíguo, balançando entre a dimensão diurna (urbana, exterior) da errância e a dimensão nocturna (doméstica, interna) da imobilidade. De um lado, afinal, estaria o movimento real, labiríntico, através de um espaço metropolitano sem limites certos; do outro, a inércia na cama, a fixidez quase mortal, a espera passiva e obsessiva do desenlace. Na verdade, esses dois espaços se cruzam, escorregam um dentro do outro, combinando-se num “tempo sem tempo” que marca a cena neurótica. Sendo, aliás, um romance totalmente urbano, a obra se enquadra todavia numa cidade – a Porto Alegre dos anos 30 do século passado – guardando ainda um caráter eminentemente provinciano, sem aquele fervor de crescimento e mudança marcando, na mesma época, cidades como São Paulo ou o Rio de Janeiro. Metonímia dum Brasil também ele, como o protagonista, suspenso entre dois tempos, entre duas dimensões de sentido, Os Ratos abre, então, tanto para uma leitura de cunho psicológico, quanto para uma interpretação de natureza histórico-social
Ratage: uma leitura de "Os ratos" de Dyonelio Machado / FINAZZI AGRO', Ettore. - STAMPA. - (2011), pp. 245-256.
Ratage: uma leitura de "Os ratos" de Dyonelio Machado
FINAZZI AGRO', Ettore
2011
Abstract
O romance Os Ratos de Dyonelio Machado consome-se – sem, de fato, se consumir –, dentro de uma estrutura cronológica que é, como a emoção que nela revive, “enorme”, aparentemente não medível e no fundo incomensurável. Tempo, com efeito, que se molda e se ajusta num espaço ambíguo, balançando entre a dimensão diurna (urbana, exterior) da errância e a dimensão nocturna (doméstica, interna) da imobilidade. De um lado, afinal, estaria o movimento real, labiríntico, através de um espaço metropolitano sem limites certos; do outro, a inércia na cama, a fixidez quase mortal, a espera passiva e obsessiva do desenlace. Na verdade, esses dois espaços se cruzam, escorregam um dentro do outro, combinando-se num “tempo sem tempo” que marca a cena neurótica. Sendo, aliás, um romance totalmente urbano, a obra se enquadra todavia numa cidade – a Porto Alegre dos anos 30 do século passado – guardando ainda um caráter eminentemente provinciano, sem aquele fervor de crescimento e mudança marcando, na mesma época, cidades como São Paulo ou o Rio de Janeiro. Metonímia dum Brasil também ele, como o protagonista, suspenso entre dois tempos, entre duas dimensões de sentido, Os Ratos abre, então, tanto para uma leitura de cunho psicológico, quanto para uma interpretação de natureza histórico-socialI documenti in IRIS sono protetti da copyright e tutti i diritti sono riservati, salvo diversa indicazione.